sábado, 11 de novembro de 2006

Retrospecto introspectivo

É uma sensação bem estranha parar e pensar que o que para você aconteceu ontem já tem 10 anos. É assustador pensar nas realizações financeiras e pessoais desses 10 anos. É desesperador ver que em 10 anos, a sua vida praticamente não mudou, que você ainda não conseguiu a tão sonhada estabilidade emocional e financeira; o que dirá casa, carro e viagens duas vezes ao ano. Mais perplexo ainda você fica ao ver que as juras de amizade eterna não duraram nem dois anos após o termino da faculdade; que aquela sua amizade de infancia, que mora logo ali na esquina, já nem te liga mais para saber de vc, e vc idem.
Acredito que seja por isso que aquelas palestras motivacionais, onde as empresas pagam verdadeiras furtunas aos palestrantes, é tão frisada a questão de não se apegar ao passado, se ater apenas ao futuro, não recordar..... Retrospectivas levam a uma depressão profunda, pois são nelas que nos damos conta que o tempo passou e nós apenas "vegetamos"... E essa certeza introspectiva, cala fundo em nossos corações, por isso a guardamos como um segredo, afim de que ninguém saiba do nosso fracasso enquanto seres humanos realizados e de sucesso.
Isso tudo me lembra uma conversa que tive com meu primo, ele falava que não se conformava do seu cunhado andar em carros mais populares, menos luxuosos, mesmo tendo muito dinheiro na conta bancária...porém nesse momento ele frisou "se bem que ele viaja bastante, vai muito para fora do país". Nesse momento eu pensei "tudo é uma questão de valores e pontos de vista". Ele falou, falou, falou e depois de um certo tempo me virei para ele e perguntei "Você já foi à Fernando de Noronha?" E ele disse um sonoro NÃO. Voltei a perguntar "E o RJ, já foi lá? Quantas vezes?" E a resposta foi: "Passei varias vezes no RJ fazendo "baldeação" na rodoviária; fui duas vezes ao RJ, onde fiquei mais tempo, uma vez à trabalho, onde fiquei quatro horas; e outra à passeio quando eu ainda era criança". Aí eu retruquei.. "então vc nunca foi ao RJ à passeio... a sua infancia já tem muito tempo e vc não aproveitou o quanto aproveitaria agora." Ele concordou depois de um tempo.
Então eu perguntei se ele tinha ido para Blumenau/SC, a resposta também foi negativa. Aí pensei: poxa, um cara como meu primo prefere andar em carro confortável do que viajar pelo próprio país e conhecer lugares bonitos, culturas diferentes, comidas típicas.... Viajar para mim é muito mais prazeroso do que qualquer carro de luxo. Aliás, carro bom para mim é aquele que pode me levar para onde eu quiser, sem quebrar e sem eu ter que me preocupar com seguro pois poderei estacionar e minutos depois já não encontrar o tal carro onde eu havia deixado. Carro ótimo para mim é aquele que possa me levar para os lugares que eu quero ir, que me ajude a realizar um sonho, uma viagem... que me apresente um lugar novo, que me leve a uma estrada que jamais havia estado. Carro para mim é isso.
Nada substitui o prazer de uma viagem para um lugar desconhecido, inexplorado por mim....um lindo novo lugar...
Meus primos sempre estão indo aos mesmos lugares.... sempre! Gastam a maior grana em hotéis e pousadas que já conhecem a décadas ao invés de irem para um novo hotel, numa cidade ainda não visitada por eles. Não sei se essa atitude é por comodismo ou por medo.
Só sei que na retrospecção da minha vida, minha introspecção me lembrou que só sei, que nada sei. Nem sei se saberei um dia.