quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Em Compasso de Espera

A espera é cruel, principalmente para quem é ansioso. Mas será que nos dias atuais existe alguém que não o seja? Eu desconheço o ser humano que ao saber que receberá uma surpresa, que fará uma viagem inesperada, que passará por uma bateria de exames clínicos, não fique ansioso, curioso e inclusive tenha a sua pressão arterial alterada. Mas enfim... existem mentirosos em todo o lugar... o mundo é repleto deles... portanto não vou me ater a esse aspecto.
O fato é que esperar algo ou alguém é deveras cruel, angustiante e doloroso. A incerteza, a dúvida e a própria insolução dos fatos é aterrorizante, medonho, cansativo e fragilizador, nos deixa esgotados diante das inúmeras possibilidades de “happy end” que se pode ter; as inúmeras variantes de um provável desfecho.
Com isso nossas vidas passam a um estado suspensivo, parece que ficamos, nós, parados no tempo, num estado de completa espera...ficamos suspensos na linha do tempo para esperar acontecer....Entramos em compasso de espera...
As coisas que acontecem a nossa volta perdem a importância e o valor que tinham para nós, se tornam complemento de um objetivo maior, de algo que ainda não aconteceu, mas que se espera que aconteça a qualquer momento. Algo que passa a ser idealizado, minuto a minuto, dia a dia, a cada sonho, a cada pensamento compartilhado. Tudo se torna pequeno... e esses acontecimentos se tornam quase imperceptíveis a quem realmente interessa... o foco, os objetivos já não são mais os mesmos... Toda a batalha anterior, toda luta, todos os objetivos parecem perdidos, insignificantes, desnecessários diante daquilo que se almeja agora.
E nesse compasso, não vemos o tempo passar... É preciso abrir os olhos... focalizar com um ângulo de visão maior, sentir e curtir cada conquista, preencher os espaços enquanto se espera. Porque a vida passa rápido... o tempo voa, e quando nos damos conta deixamos de viver, de curtir o pouco por sempre esperar o muito.
É muito mais fácil dizer e escrever do que realmente fazer, porque nos envolvemos muito com aquilo que queremos, buscamos e precisamos... nos focamos demais em nossos objetivos, mas todo o resto necessita de nossa atenção, apoio, cuidado, orientação, aplauso e brados de vitória. Se mantemos tudo em suspenso, a vida fica sem sabor, sem sal nem doce, fica insossa, adoçada as vezes por umas gotas de esperança dentro do mar de espera... como se adoçássemos a vida com “stevia” ou “frutose” ou ainda esses adoçantes mais comuns, dando um tom artificial ao sabor da vida... adoçando sem adoça-la realmente, de verdade.... com um doce que não mela a ponta dos dedos, não enjoa o paladar, nem arrepia o corpo de tão doce.
Concordo que poderá acontecer de se salgar mais a vida do que adoça-la, nesse meio tempo de completa espera, porém, mesmo assim poderemos sentir os sabores... Com muito ou pouco sal... ou mesmo com muito pouco açúcar... O importante é que será açúcar de verdade... e não um adoçante qualquer.
Poderemos sentir o sabor da vida, mesmo que em pequenas doses, em pouca quantidade... Não do modo que merecemos e queremos, mas da maneira que a própria vida e as situações em que nos encontramos permite.
É melhor viver das migalhas que a vida nos oferece, do que não ter expectativas de melhora ou mudanças. É melhor o pouco do que o nada... melhor o sumo diluído em muita água do que apenas o bagaço. Antes um limão do que nenhum!
Entre o 8 e o 80, prefiro ficar com todo o intervalo que os separa.
É difícil, doloroso, muitas vezes sangra a alma, corrói a mente, sangra o coração... mas mesmo assim vale a pena a espera. E é preciso crer que sim, caso contrário toda dor é vã filosofia.