sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

TESTAMENTO

Alguns fatos da vida nos levam a pensar na morte. Levam-nos a refletir sobre a sorte...o passado, o presente e o futuro.
Então pensei: o que deixaria como legado? Filhos? Não os tenho... Mas se os tivesse deixaria o meu exemplo de vida.
Minhas conquistas não se resumem a bens... Desses não tenho nenhum. Não guardei, vivi cada centavo que pude, em benefício próprio ou alheio (que por conseqüência me satisfez de alguma forma) Da vida não se leva nada disso e dependendo do que se deixa aos outros, não dura muito. Isto é fato.
O que deixaria então?
Deixaria o conhecimento acumulado, a vivência... toda a experiência acumulada de uma vida jovem. As agruras da vida e também as alegrias. Investi tudo em conhecimento, em estudos (que ainda continuo adquirindo).
Além disso deixaria o bem mais precioso que adquiri e o qual considero de muito valor: a L I B E R D A D E.
Liberdade de escolhas, liberdade em ir e vir – quando e onde quiser – sem empecilhos. Liberdade para viajar, sair, me divertir... para fazer o que vier a cabeça. Liberdade para aprender o que convier, para escolher, para errar e tentar corrigir o erro (mesmo que não seja possível). Liberdade para escolher um caminho e, no meio, desistir dele.... Liberdade para recomeçar, em qualquer altura da vida. Liberdade de não desistir do que se quer; e desistir sempre que for necessário. Liberdade para comprar, vender ou dar sem pedir opinião, sem dar satisfação. Gastar sem pedir permissão. Sumir sem ter que dar explicação. Liberdade para dizer NÃO, NÃO SEI, TALVEZ e TANTO FAZ.
Liberdade para fugir do marasmo, da rotina, da chatice, da solidão e de tudo mais que não se queira. Esportes radicais, noites em claro, dias sem fim, riscos desnecessários, medo nenhum, desafios encarados de frente, muita adrenalina, pouca disciplina; nada a perder.
Liberdade para mudar a agenda, mexer no projeto, refazer planos ou simplesmente não ter plano algum.
Sem essa de “riscos calculados”; nunca tive tempo para isso. Nunca pensei muito para fazer... apenas fiz o que meu instinto pedia, a segurança sempre veio do meu sexto sentido (um pouco falho, eu acho). Intensidade em tudo para viver em harmonia comigo mesma.
Liberdade de ser eu mesma. Contraditória, múltipla, complicada, densa, leve, solta, simples, tensa, correta, meiga, frágil, completa; porém única. Triste, feliz, madura, imatura, ingênua, sagaz, preparada, “fula da vida”, sofisticada, engraçada, culta, desinteressada.... Perfeita, dentro de cada limite... do meu limite.
Livre para me preocupar com o que realmente vale a pena; sem medir a vida alheia, sem tempo para fofoca ou “patifaria”.
Liberdade para viver por mim... para fazer o bem, para torcer para quem quiser e pelo que quiser.
Liberdade para ter uma pátria, religião ou crença, gosto, time, cor, amigos...

Peito aberto para a vida no intuito de viver sem medida.
A vida não para, quem para somos nós.
E quando eu parar, todo meu legado será esse; e vou deixar para quem quiser se apropriar... dá para muita gente.
Gostaria que fosse para um filho meu; alguém vindo a este mundo por um motivo muito especial: por amor, por paixão... sem ser obra do acaso ou algo planejado para que outra pessoa abandone a solidão. Alguém que viesse para somar, para fazer lembrar e reverenciar algo bom, saudável... para completar a felicidade. Enfim...

Não sei quanto tempo eu tenho... só Deus sabe.

Já pensei em pedir para ser cremada, virar pó e depois ter as cinzas jogadas em um pomar e voltar a viver nas plantas... dar frutos. Mas depois pensei bem... de alguma forma seria “canibalismo” indireto... outros me comeriam... Mulheres me comeriam!! Credoooo!!!!! Desisti dessa idéia, quando cheguei a essa conclusão.
Aí pensei em ser enterrada em um cemitério jardim... sem aquele monte de túmulos de cimento assustadores.... apenas um cemitério plano, com placas fixadas ao chão. Gostaria de ser enterrada em pé. Uma forma diferente de dar fim ao meu corpo. Não gosto de nada igual, nem na hora da minha morte. Quero que as pessoas tenham paz quando (e se) visitarem meu túmulo. Quero que se lembrem de mim e sorriam... como eu sempre digo: “chorar causa rugas”, e não quero ninguém morrendo numa mesa cirúrgica por conta dos pés de galinha adquiridos por minha causa! (como se isso fosse possível) – risos -.
Sorrir é melhor que chorar... sempre!
Desejo ser lembrada sempre, com muito carinho, afeição... por aquilo que eu sou, por quem eu sou... a pessoa que me tornei. Com todos os defeitos e qualidades. Por ser um ser humano que fez alguma diferença na vida de outras pessoas. Alguém que deixou coisas boas, sentimentos bons, boas imagens. Uma pessoa de coragem!
Desejo flores, desde que sejam rosas, tulipas, gérberas ou orquídeas (as orquídeas são as mais lindas pela sua complexidade de pétalas).
Gostaria que, durante meu velório, houvesse ao fundo – bem baixinho – as minhas canções preferidas... não para mim, mas para aqueles que me conhecem... para ouvirem, pela ultima vez, a pedido meu. Velório não tem que ser silencioso, já basta ser triste. Concorda?
Sempre que beberem um Red Label ou um Black Label (de preferência), brindem a mim... Smirnoff então: bebam por mim!
Ser lembrado é permanecer vivo! E eu quero continuar existindo dentro daqueles que me conheceram....Quero ser eterna na cabeça, na alma e no coração de cada um.

Fé na vida, paz na eternidade....