terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Viver outra vida

Ultimamente ando pensando muito, a respeito de muitas coisas e isso me leva a reformular e até mesmo criar novas opiniões a respeito de muitas coisas. Um dos pontos é o surgimento dos filhos na vida de uma pessoa.
Sabe quando os filhos surgem? Em que momento da vida?
Os filhos surgem no momento em que a pessoa se cansa de viver a própria vida, ou quando acredita que não a mais nada de importante a fazer na sua.
A partir desse momento ela passa a querer viver a vida de outra pessoa, até para justificar a sua.
Quem nunca ouviu a frase "só estou neste emprego ainda por causa dos meus filhos" ou "estou estudando para dar um futuro melhor para o meu filho", e por aí vai.
Puro egoísmo! No futuro, não muito distante, ele irá cobrar desse filho todo o seu esforço próprio, todo seu trabalho, dinheiro gasto e os cuidados dispensados a esta criatura; seja em forma de carinho, seja com cuidados médicos e financeiros, seja com respeito ou até com o cumprimento de metas estipuladas por ele, do tipo "meu filho tem que se formar em medicina" ou "meu filho vai trabalhar na suiça" ou ainda "você vai se casar com a pessoa que eu escolher para você, porque ninguém mais sabe o que é melhor para você do que eu". Enfim...
No entanto o que nunca se deixa claro aos filhos é que os esforços profissionais e financeiros seriam realizados da mesma maneira, em menor ou maior grau talvez, mesmo que este ser não existisse. Afinal todos precisamos trabalhar e nos sustentar, mesmo que sejamos sozinhos. Os filhos são mera desculpa, e para alguns são uma grande estímulo, um motivo a mais para se fazer algo importante, algo que realmente pode mudar o rumo de suas vidas.
No entanto, quando se tem um filho o que se quer é que ele seja melhor que você. Então se coloca nele todos os sonhos frustrados por si, não realizados, todos os seus anseios e desejos que não houve tempo ou possibilidade de cumprir e realizar. Infla-se este ser de sonhos e expectativas que não são dele; mas que toda a atmosfera criada em torno dele o leva a acreditar que este sonho, e todos os objetivos, partiram dele. São únicos e pessoais. Mentira! Pura Ilusão!
Ter um filho é um grande troféu. os homens gostam de exibir para dizer, mesmo que apenas em seu íntimo: "eu que fiz!". As mulheres se exibem com seus bebês da mesma forma e pensam "ele será um exemplo para todos".Mulher adora ter sempre razão.
Os pais sempre acham seus filhos lindos. Dificilmente você encontra pais realistas. Na maioria dos casos, quando esses pais "sem noção" te perguntram sobre a beleza de seus filhos, você é obrigado a dizer no mínimo "é uma gracinha!" "Muito fofo mesmo". Para ser o mais sincero possível nesses casos. Mais alguns pais ainda insistem na questão dizendo "não é a criança mais linda que você já viu?" E você se vê obrigado a responder com um expremido "SIM".
Todo ser humano quer fazer algo perfeito. Alguns não sabem como faze-lo, então fazem mais filhos. Todos os pais querem ter filhos lindos, saudáveis, verdadeiros deuses gregos no futuro: inteligentes, lindos, educados, estudados, cultos e ricos de preferencia, ou pelo menos com grandes chances de que outra pessoa possa vir a proporcionar tal conforto.
Todos querem filhos para si. Para suprir alguma necessidade ou para descansar da própria vida. Até mesmo para justificar a sociedade e própria felicidade, para dizer: "sou completo" "tenho uma familia completa, sou feliz" "construi algo perfeito". A sociedade cobra isso. Assim como cobra o baile de debutante, o casamento, a faculdade, o bom emprego, etc...
E por falar em emprego. É muito interessante ouvir de um pai ou uma mãe que seu filho terá o emprego que quiser quando crescer. Mesmo que desde a tenra idade esses pais já estejam condicionando seus filhos. Desde que esse "emprego que quiser" seja algo de muito status e com bom rendimento financeiro. Que pai quer ou permitiria que seu filho fosse lixeiro, faxineiro, porteiro, mecânico, segurança, office-boy, moto-boy, entregador, carteiro, pedreiro, etc. Que pai??? Mesmo todos estas profissões sendo fundamentais para a sociedade, como um todo.... Mesmo estas atividades sendo básicas e fundamentais para a vida de qualquer pessoa. Nenhum pai deseja que seu filho a exerça.
Todo pai quer que seu filho seja GRANDE, todo pai quer exibir seu troféu, mas quer que este troféu seja de ouro e não de bronze apenas. Não quer que seja mais um troféu, masi quer que seja O TROFÉU para que todos vejam e admirem.
Apesar dos fatores fundamentais não esterem ligados a este, este fator secundário as vezes se torna maior que as questões fundamentais que o levaram a ter um filho. Sejam estes fatores a solidão, a previsão de uma velhice segura e tranquila, a vontade de cuidar de alguém, de moldar um ser como se acredita que as pessoas devam ser, ou até mesmo a falta de objetivos na própria vida. O fato de querer tornar o filho um REI, pelo menos para as pessoas que o cercam ou para todo um grupo social, muitas vezes se torna o principal objetivo na vida de uma pessoa. Bem como ostentar aquilo que ela mesmo não é, e acabar criando seus filhos numa grande ilusão que irá trazer a estas criaturas decepções amargas num futuro próximo. Mas quem está preocupado com o futuro próximo destes? No fundo todos estão, na verdade, preocupados consigo próprios. Com o próprio futuro e com um fim menos solitário e mais confortável.
Hoje, eu posso afirmar que já cansei da minha própria vida. Cansei de errar, de sofrer e de me frustrar. Estou pronta para desisitir da minha vida e me pautar da vida de outra pessoa, de outro ser. Quero ter um filho para não mais ficar sozinha, para que me faça companhia, para que eu coloque sobre ele todas as minhas expectativas antes frustradas na minha própria vida. Quero que ele seja o que eu não fui. Quero ter desculpa para batalhar com afinco por um emprego melhor, por mais status na carreira. Quero que meu filho me dê status na vida, quero que seja lindo e que me dê orgulho. Desejo fazer parte do ciclo dos pais orgulhosos, das festinhas de aniversário, das gincanas da escola, dos projetos sociais. Não quero mais ficar fora do ciclo vicioso da vida. Quero que a sociedade se compadeça de mim, como mãe. Quero que me vejam como batalhadora, forte e ao mesmo tempo frágil, uma pessoa que precisa sempre ser afagada, ajudada e consolada. Nunca tive o desejo extremo de ser mãe, nunca foi meu objetivo principal na vida. Mas neste momento a falta de objetivos me impõe um novo. Algo que mude minha vida definitivamente. Uma nova meta que não é minha apenas. Algo que envolva outra criatura, que deixe de ser apenas eu. Algo para um futuro tranquilo, aconchegante, um fim mais humano e caloroso. Uma sociedade mais contentada no presente.

No fim, tudo não passa de um grande egoísmo, por parte de todos, repetido por gerações e gerações sem fim. Um verdadeiro ciclo vicioso. Uma bola de neve. Um traço sem fim....
Você pode negar isso?