domingo, 23 de agosto de 2009

ANESTESIA DA ALMA

Uma vez ouvi alguém dizer que existem pessoas que não sabem viver em plena felicidade. Precisam de um problema, um drama para que se sintam confortáveis, ou melhor, para que se sintam vivos!
Também dizem que pessoas abonadas nem sempre são felizes, e que na maioria das vezes os problemas que esse tipo de pessoas possui não depende de dinheiro para ser solucionado. O que de fato deve ser verdade; porque caso contrário nem haveria em que se falar em problemas. Concorda?
Pois bem... não faço parte de nenhuma das duas categorias, mas gostaria de ter parte de ambas. Felicidade e bastante dinheiro. Aí você pensa: “quem não quer?”. Todo mundo, claro. Mas eu não sou o tipo de pessoa gananciosa, não quero mmmmmmmmuito, só o suficiente para realizar algumas das muitas boas coisas da vida. Nem preciso de felicidade repleta, mas preciso de uma concreta, de verdade... dure o tempo que durar. Desejo que os problemas que surgirem venham em baixa escala e que não sejam criados por mim... Que sejam aqueles de situação; devido a uma aquisição, uma conquista, uma vitória... um desejo saciado. Enfim... Problemas advindos de uma boa lide, de uma boa causa. Algo que tenha surgido devido a defesa de uma tese, uma idéia, por proteção a um ciclo....
O pior é adquirir problemas devido a um mal entendido; uma palavra impensada, uma frase mal dita (ou maldita, que seja). Um problema que não existiria se aqueles 5 minutos jamais tivessem existido naquele determinado dia. É o tipo de problema que se torna tão grande, tão imenso para si, que se torna difícil carrega-lo; o que dirá resolve-lo.

Duro mesmo é sentir tanto por isto; é te doer tanto que sua alma fica tolida, insensível a quaisquer outros males, alegrias... a alma se anestesia.
Sabe o que é ir ao paraíso e não se sentir feliz lá? Eu sei
Sabe o que é beber o melhor vinho e ainda assim não se contentar? Eu sei.
Ir as festas temáticas mais legais e retornar para casa antes do fim. Sabe o que é isso? Eu sei
Ir a um baile e não dançar uma única música; querer se embebedar noite adentro e não conseguir esvaziar uma garrafa por falta de ânimo; querer chorar e não surgir uma lágrima dos olhos; olhar a mais linda paisagem e não sentir nada! Não sentir o vento que bate no rosto, não ouvir o barulho das ondas do mar, não sentir o aroma das plantas, o gosto de tudo. Achar tudo tão igual, tudo comum... Sabe o que é isso? Eu sei!!!
É como “estar e não estar lá.”
Um filme em tela grande, onde você usa os óculos 3D. Numa realidade virtual. Uma realidade que parece não sei a sua, apesar de estar lá, de pisar, de ouvir, ver... Mas você não sente!!
Não consegue sentir; não consegue se sentir. Se achar! A dor tomou conta, a problema se transformou em um monstro... dinheiro nenhum no mundo é capaz de resolver isto; e nem depende de você... Saiu do seu controle, não está nas tuas mãos.... Deixou de te pertencer e de ser dominado por você a partir do momento que as palavras saíram da sua boca e percorreram todos o caminho até serem ouvidas por quem as encontrou pelo caminho.
E um problema que não depende de você para ser resolvido é sempre muito maior do que você porque não é conduzido conforme a sua vontade, conforme o seu jeito de ser e a sua maneira de pensar, para ser resolvido. Depende de outra ou de outras pessoas para que se chegue a uma solução. E este tipo de solução nem sempre vem a contento.
“A palavra proferida jamais é retornada”.... essa é frase conhecida.
O fato é que por depender de outros para resolver questões que te atingem diretamente, você fica atado a vontade alheia, a uma outra cabeça, outra forma de pensar... e isso consome... a tal ponto que se chega a sentir que nada mais resta para ser consumido, possuído pela dor que vai no peito e que toma o corpo inteiro.
Já é tudo tenso, dolorido, duro...
O psicológico deixa o físico frágil e todo tipo de males te acomete... a resistência corporal já não é mais um escudo... e o corpo sucumbe ao emocional abalado; e tudo mais se abala. Já nada mais resta a fazer a não ser endurecer a alma, calar, anestesiar o que te resta para não mais sentir dor; e enfim trazer um conforto frágil, ilusório de que já não se sente mais nada.
Porém nada satisfaz, vem o sol, cai a noite, calor, frio, chuva... tudo igual, todo dia... o mesmo dia. Nada é novo, nada tem graça, tudo é normal, sempre igual por mais que não seja, por mais que se ande...
As mesmas pessoas invisíveis a tua volta.... o mesmo desespero guardado a sete chaves na alma...
As mesmas revoltas, reviravoltas na mente... Tudo tecido de couro, impenetrável...
Onde todo sucesso é insucesso... onde toda comida é pouca, todo fruto é velho, toda bola é mucha, toda corrida é “slow motion”, todo show é novela, toda comédia é mal gosto, todo sentimento é teatro....