quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

A Busca

Derrepente nos vemos à margem de um abismo...
Quando achamos que não estamos sós e quando percebemos, na verdade, sempre estivemos sozinhos. Agora mais do que nunca.
Olhamos ao redor e não vemos sentido em nada. As conquistas já não tem gosto.Tudo é vazio.
Não existe mais objetivo. Os antigos projetos não fazem mais sentido.
Aí surge a retórica: A minha vida tem sido? Qual o sentido da vida? Porque eu existo? Eu só nasci para sofrer?
Mais uma vez, perguntas sem respostas.... perguntas que mergulham no vazio, escorrem pelo infinito; de onde não se pode ouvir o retumbar do fundo, do fim.
O único sentimento que paira sobre nós nesse momento é uma tristeza sem fim e um completo vazio. Uma vontade infinita de gritar com todas as forças e com todo o fôlego que os pulmões podem aspirar; e ao mesmo tempo o desejo de permanecer apático, quieto, calado, parado, vegetando apenas. Um modo de não mais prolongar o sofrimento... deixar de comer, de beber, a não ser que essa bebida contenha uma boa dose de alcool em sua composição... porque o alcool ajuda a embaralhar as idéias, anestesia o sofrimento, faz esquecer um pouco a dor e não nos deixam lembrar das causas. Tudo que se quer é permanecer deitado, calado, de olhos bem fechados, no mais profundo silêncio... de modo que o sofrimento que vai na alma possa ser ouvido ensurdecedoramente por si.
Vontade de abandonar a si próprio. Deixar que a dor se apodere do corpo, de forma que o enfraqueça, que ele se torne vulnerável a qualquer doença. Afinal, viver não faz o menor sentido. E tirar a própria vida é injusto, é imoral e é pecado.
O melhor é deixar que o tempo, os dias façam isso por você. Basta que você apenas não faça nada. Absolutamente nada! Não coma, não beba, não durma direito, não se levante, não fale... apenas se cale, como uma concha. Fale apenas consigo. Se puna e se perdoe.
Não é fácil fazer as pazes consigo mesmo. Não é fácil se perdoar pelos mesmos erros cometidos. Pelas escolhas erradas, por se deixar enganar. Por querer ser enganada, usada, traida, abusada, e tantas outras formas de violência moral e psicológica.

Tudo isso, porque quando se está parado em frente ao abismo se vê, que toda a tentativa de não retornar a esse lugar, na verdade acabaram sendo em vão... De nada adiantou trocar o guarda-roupas, melhorar a auto-estima, diminuir o manequim, se polir, se educar,se a essência não mudou, se velhos conceitos permaneceram, se não se curou a alma, se não ouve o perdão íntimo para si mesmo.
E mais uma vez os mesmos erros são cometidos. E mais uma vez nos ferimos. Porém os ferimentos se tornam piores e mais profundos; mais difíceis de curar. Porque já estamos cansados, e os ferimentos anteriores ainda não estão curados, há apenas uma casca fina que os cobre e qualquer movimento mais "brusco" os expõe novamente. As nossas forças para nos renovarmos, e nos curarmos se esvaem de nós a cada novo tropeço, a cada nova decepção, a cada plano frustado, a cada sonho perdido. Ao invés de ficarmos fortes, cada vez mais enfraquecemos, e acabamos querendo deixar de lutar. Deixar de sonhar, de querer, de almejar dias melhores, coisas melhores, pessoas melhores; deixamos de querer melhorar a nós mesmos.
Tudo que sentimos desejo é de entregar "os pontos". Dizer "chega", "estou fora".
A diversão acaba virando meio de fuga. Já não fazemos as coisas por prazer, mas apenas para ocupar nosso tempo. Queremos sair da ociosidade da alma. Mas não para nos tornamos produtivos e realizados, mas apenas para não pensarmos mais no que nos fere, não pensarmos mais naquilo que corrói a alma, destrói o espírito. A tal grau que queremos deixar de pensar, de sermos seres racionais.
Queremos mergulhar no vaxio. Passamos a desejar isso. E quando estamos numa atividade de risco, pensamos por várias vezes o que aconteceria se algo desse errado, se deixamos que algo desse errado... seria uma forma de apaziguar a dor para sempre. Uma solução definitiva. sentiríamos muita dor ao fazer isso? Seria rápido? indolor? Esses pensamentos passam e se vão, porém nunca desaparecem, sempre nos rondam.
Alguns dão o nome a isso de Depressão. Outros preferem dizer: Desespero. Para outros: tristeza profunda. Muitos outros preferem entender como carência. Seja qual for no nome... sentir isso não é nada bom. Viver isso é péssimo!
Sabemos que precisamos BUSCAR, só não sabemos bem o quê.
Buscar novos objetivos. Correto. Mais focados em que? Para que?
Precisamos nos apegar em novos sonhos- buscar outros sonhos -, só nossos. Mas que graça tem sonhar sozinho? Que sonho pode haver sem um objetivo que o fundamente?
Precisamos buscar pela cura! Pela cura da alma, do espírito, do corpo e principalmente da mente. Curar a essência! Mas alguém pode me dizer aonde reside a cura? Qual a fórmula para o antídoto?
A busca deve ser constante em tudo, em nós. Mas buscar o que? BUSCAR para que? Não podemos apenas ser encontrados e socorridos?
Preciso que me encontem... preciso de socorro! Não quero cair no abismo! Quero sair daqui, mas não consigo fazer isso só. Preciso de alguém que se importe comigo de verdade. Alguém que me tire daqui, desta beira. Minhas buscas não deram certo; elas apenas me arrastaram até aqui...
Preciso que alguém me busque...